Reflexões sobre o luto e a morte sob outro prisma
- Claudio Mairan Brazil

- 13 de dez. de 2020
- 2 min de leitura

A morte é o coroamento de uma construção de vida. Enquanto a pessoa pertence a memória de alguém ela não esta morta. Ela continua viva nas lembranças e na saudade daqueles com quem conviveu e, juntos, escreveram uma história.
A morte assusta por sua complexidade de entendimento de sua essência e de sua definição, para uns, é o fim, para outros, uma passagem para um novo plano ou o início de uma nova vida. Aqui podemos salientar uma pequena sutileza deste grande mistério ou seja o enfraquecimento do sentido de pertencimento. A pessoa deixa de pertencer ao mundo físico, ao mundo concreto e passa a viver na subjetividade e na singularidade das lembranças. As lembranças vão ser o somatório de atividades que a pessoa teve durante sua vida. Muitas vão ser boas, outras, nem tanto.
Um dos componentes que formam o conteúdo das lembranças são os desejos expressos ou reprimidos em relação ao ator principal do evento morte. A criança que ao ter negada uma solicitação deseja a morte de quem negou. Se aquela pessoa morrer com certeza vai gerar um sentimento de culpa em quem desejou. Claro que também temos que lidar com a onipotência (se eu desejo acontece) daquele que acredita que se deseja aquilo acontece. A medida que a criança vai amadurecendo essas ideias são melhores elaboradas e a morte vai deixando de ser um evento finito que vai e volta e, expõe sua realidade de só existir na lembrança.
Enquanto existir o sentimento de pertencimento, a lembrança se mantém viva e vai desaparecendo até ser revivida em datas especiais ou situações específicas.
O luto é o momento de aprender a lidar com as lembranças e a conviver com a saudade.
O luto vai ser mais ou menos doloroso de acordo com a qualidade do conteúdo das lembranças, e de como foram trabalhadas as situações de perdas que ocorreram durante a trajetória de vida. Não podemos minimizar ou maximizar a perda de alguém se não for nossa perda, só quem pode fazer isso é o próprio sujeito que sofreu essa perda.
As pessoas tem que vivenciarem seu luto para poder elaborar sua perda, ou seja, aprender a conviver com suas lembranças e com os efeitos que elas produzem.
Aqueles que não conseguem elaborar o seu luto, vão ficar com o luto suspenso que pode ser revivido em um futuro até mesmo distante, quando o sujeito reviver a cena primária.
A empatia do cuidador e a resiliência do que sofre pela morte e vivencia o luto é talvez o melhor caminho para minimizar essa situação de sofrimento.
A morte física acontece, mas a morte na memória ou na lembrança é lenta e leva muito mais tempo.
Nosso papel principal na vida é ter atitudes que possam proporcionar boas lembranças quando não mais estivermos aqui, o que nos manterá vivo após a morte.



Comentários