Na Guerra entre os Mundos: a valorização da enfermagem e o cuidado humanizado
- Claudio Mairan Brazil
- 10 de out. de 2021
- 3 min de leitura

Ser enfermeiro é estar disposto a dedicar sua vida a cuidar da dor e do sofrimento do outro com um olhar muito mais profundo. É não ver só a dor e o sofrimento, mas sim ver a pessoa que tem tudo isso, é entender o outro “como ele é”; compreendendo que ele é o dono de seu existir, de suas virtudes e de seus defeitos. Entender que ele não pode ser culpado por ter a sua doença, mesmo que ele possa ter sido um facilitador para que a doença se instalasse. O enfermeiro não pode ou não deve assumir uma atitude julgadora em relação aquele que precisa de toda sua competência profissional para ter uma melhor qualidade de vida. Ver no outro um sujeito que precisa dos cuidados profissionais de outro sujeito que tem uma formação para oferecer esses cuidados. O enfermeiro e toda a equipe de enfermagem têm que acreditar na relação sujeito x sujeito para poderem proporcionar um cuidado mais humanizado. Na relação sujeito x objeto o que tem valor é o que eu penso no que o outro sente e não no que ele sabe sobre o que sente. O profissional se impõe, durante a relação com o paciente, impõe-se como detentor do saber do saber, ou seja, pelo que “pensa que sabe”, não valorizando o que o outro sabe sobre seu corpo, sua vida e sua própria doença.
Essa relação de poder, quando estabelecida, é inversamente proporcional a qualidade da assistência prestada. O que é mais importante saber que a pessoa apresenta um transtorno mental ou poder entender as dificuldades em lidar com seus conflitos, seus desejos e suas dúvidas? Eu penso que é muito mais importante conhecer a dinâmica do fato e não o nome do problema. Foi assim com esse entendimento que nasceu na madrugada de um dia qualquer do ano de 1978, em uma mesa de bar na Avenida das Nações, na cidade de Bauru (SP), O “SEU João da Úlcera’’ personagem esse que é um velho conhecido e espero que muito amigo de meus colegas que foram meus alunos um dia.
A pandemia estraçalhou a saúde mental e física de muitos profissionais da enfermagem. Felizmente a ciência, apesar das forças negacionistas, está conseguindo vencer essa batalha através da vacinação, associada ao uso de máscara e os demais cuidados como a higienização das mãos e evitando aglomerações.
A enfermagem precisa tirar a roupagem de super heróis e repor a de profissionais que marcam a vida do paciente, por respeitar a ele como sujeito responsável pelo roteiro de sua própria vida.
Na ‘guerra entre os mundos’ a enfermagem tem que ser aliada daquelas pessoas que necessitam de seus cuidados para vencerem a batalha. Jamais a enfermagem pode assumir o papel dos alienígenas descritos na Guerra dos Mundos de Herbert George Wells, que lutavam pela sobrevivência através do poder e dominação do outro.
O enfermeiro não pode querer assumir o poder sobre o outro pelo seu saber, mas deve sempre compartilhar seu conhecimento técnico e entender o conhecimento daquele que entrega sua própria vida em suas mãos.
Para que a enfermagem possa ter sucesso na sua missão é necessário que tenha o reconhecimento social, que saia do mundo dos aplausos, pois no “mundo real” aplausos não pagam contas e não suprem as necessidades básicas do profissional e sua família.
Salário digno e carga horaria justa são pressupostos básicos para um cuidado mais humanizado a ser oferecido pela enfermagem
Sociedade mais justa é aquela em que não existe explorado e exploradores, dominados e dominadores, mas existe sim a igualdade entre seus integrantes e o respeito pelas peculiaridades de cada um.
Ao adotar esse ideal de sociedade mais justa e transferir para a relação enfermeiro x paciente estamos indo a passos largos para uma maior humanização da assistência. O enfermeiro recebe o verdadeiro reconhecimento e é valorizado com um salário digno e uma carga de trabalho justa, enquanto o outro (paciente) tem reconhecido o direito de utilizar o conhecimento de sua própria vida em benefício do seu tratamento.
No cuidado humanizado tem que ter a inclusão e o pertencimento de todos os atores envolvidos na relação enfermeiro x paciente ou não passará de uma ilusão para satisfazer meu ego.
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