O primeiro encontro: a humanização do cuidado
- Prof. Claudio Brazil
- 19 de abr. de 2020
- 2 min de leitura

De todo o processo do cuidar em enfermagem, uma das fases - talvez a mais importante - é a do primeiro contato ou o momento de acolher o outro no serviço. É nessa fase que são plantadas as bases da confiança entre o que vai ser cuidado e aquele que vai cuidar. Todo o sucesso do processo de cuidar da enfermagem vai depender desse momento.
Se a pessoa que busca o atendimento sentir-se acolhida, valorizada, participante e importante naquela relação os laços de confiança ficam fortalecidos. Se ela sentir-se sujeito e ter sua própria vivência e sua experiência de vida valorizada, com certeza, vai ser muito mais fácil de acreditar nas intenções do outro que se propõe a ajuda-la com seu problema.
O problema deixa de ser seu e passa a ser nosso, então juntos vamos encontrar a solução ou minimização dos seus efeitos.
Acreditar na potencialidade do outro tem que ser uma filosofia de vida de quem assiste e não um discurso vazio do profissional frente sua profissão, que veladamente e até explicitamente, cobra isso dele.
Ao iniciar esse processo de acolhida, o profissional tem despir-se de sua onipotência, o qual se acha o dono do saber e da verdade. Precisa colocar-se à disposição para ouvi-lo e valorizar tudo aquilo que quem está sofrendo expõem, mostrando a experiência de vida que aquele sofrimento propicia a ele.
Entendo essa vivencia e experiência do outro e, desta forma, juntos devemos tentar encontrar a melhor forma de aliviar o sofrimento. Muito pouco vai ajudar se o profissional indicar essa ou aquela atividade, se ela não tiver sido discutida com aquele que esta sofrendo a ação e os efeitos do problema. A não participação na busca da solução do problema e o não se sentir participante vai ser um entrave para sua aderência ao tratamento ou cuidado proposto.O futuro dessa relação é incerto e tende ao insucesso.
O profissional precisa estar muito atento, porque aquele que esta sofrendo tende a entregar a sua vida e seu problema para que o profissional resolva. Isso pode alimentar sua onipotência profissional que acha capaz de sozinho encontrar a solução. Ledo engano, a solução está com quem conhece e vivencia o problema. Cabe ao profissional ajudar para que o outro encontre o caminho para sair daquele sofrimento.
Nesse momento de pandemia aparece muitos obstáculos mas os princípios continuam os mesmos. Tenho visto muitas listas do que pode ser feito para preservação da saúde mental. Com certeza ajudam, mas toda a vez que essas ações puderem ser discutidas com os usuários dela vão ser muito mais eficientes. Mesmo que essa discussão tenha que ser feita de forma virtual. A ausência do contato físico que faz parte de nossa cultura também pode atrapalhar mas nada que um colocar se a disposição do outro de forma sincera não possa resolver.
Acolhida bem sucedida é aquela em que o sujeito que cuida e o sujeito que é cuidado encontram-se, valorizam-se, respeitam-se e conseguem estabelecer uma relação de confiança mutua, no qual um reconhece o saber do outro e esse valoriza a vivencia daquele com seu problema e juntos vão buscar a solução.
A lógica da relação sujeito/sujeito é o caldo de cultura para o cuidado humanizado!
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