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Como avançar no modo de assistir

  • Prof. Claudio Brazil
  • 1 de dez. de 2019
  • 3 min de leitura

O cuidado tem que avançar direcionando à relação com a pessoa que precisa de ajuda da condição de indivíduo-objeto para individuo-sujeito, senão todo o discurso que envolvem os avanços na saúde mental se torna vazio e sem um propósito, porque o fazer continua sendo centrado pela lógica “manicomial”.

Toda a relação em que um tem o poder sobre o outro, o controle é exercido através das portas trancadas e/ou pelo saber no qual aquele que tem o conhecimento científico pensa que sempre sabe o que é melhor para o outro que sofre.

Se não for respeitada, entendida e valorizada a experiência de vida que aquele sofrimento está proporcionando para quem vivencia, as ações que forem feitas para ele e NÃO com ele nada mais são do que o exercício do poder de quem detém o conhecimento cientifico. Vai estar sendo valorizada a dificuldade do outro gerenciar sua própria vida, dificultando assim sua liberdade de decisão e sua prerrogativa de ser o agente de sua própria transformação

Ao não valorizar a experiência de vida do outro, o profissional que assiste não está considerando a singularidade e a subjetividade do assistido. Aparece então a lógica da patologização e medicalização da assistência e/ou do cuidado.

O sujeito que sofre pode ter as portas abertas mas está ‘’preso” ou “trancado” pela vontade daquele que é detentor do saber, portanto do poder instituído. O que, no meu entender, é uma repetição da pratica manicomial, através de uma relação vertical apesar da possibilidade de ir e vir o que faz a grande diferença entre os modelos, ou seja, “porta aberta ou trancada”. Espero com esta simplificação provocativa despertar uma reflexão naqueles que trabalham com a perspectiva das portas abertas.

A Reforma Psiquiátrica foi um excepcional avanço na forma de relacionamento com o indivíduo que está sofrendo, a partir do pressuposto de BASAGLIA que afirmava "A LIBERDADE É TERAPÊUTICA". Serviços como os CAPS deram um grande passo na direção da humanização da assistência.

As portas se abriram a sociedade, ficou muito mais receptiva e próxima. A territorialização aproximou aquela pessoa que estava segregada do convívio com seus familiares e amigos o que veio facilitar sua volta para meio social em que vive. O não segregar usa a liberdade como uma nova experiência e uma nova forma de lidar com suas vivencias .

Esse processo precisa continuar avançando e os serviços precisam se desinstitucionalizar. Tem que investirem em ações no território e não ficarem restrito a um espaço físico a espera de serem procurados.

A incursão no território fará com que a singularidade e a subjetividade sejam ainda mais valorizadas. No território vai ser aliviada a artificialidade da instituição e até pode diminuir o preconceito, pois ai deixa de ser um lugar de “louco”.

Neste sentido, também a atenção básica precisa ocupar-se do cuidado em saúde mental, pois as pessoas numa condição de sofrimento psíquico ou não pertencem a uma comunidade, certamente precisam dos cuidados de outros serviço comunitários de saúde e assistência social, assim, as UBS são importantes serviços na construção dessa rede de cuidados, inclusive trabalhando com a prevenção, promoção e assistência de agravos desta natureza.

Existem diversas práticas espalhadas pelo mundo e, também, no nosso país que surgiram para mostrar que o cuidado em saúde mental precisa ser criado e construído todos os dias de forma conjunta com as pessoas envolvidas neste processo de ressiguificação do cuidado em saúde mental, como por exemplo, “O Movimento dos Ouvidores de Voz”; “o Grupo Autônomo de Medicação (GAM); “o Diálogo Aberto, entre outras experiências como na academia com o prof. Wilson Kramer de Paula e sua metodologia do ensino, na disciplina de Saúde Mental em Santa Catarina. São formas diferentes de encarar a situação e estão ai para mostrarem novos modos de assistir. Importante destacar, provavelmente outras formas de cuidados devem estar sendo criadas em todo mundo e que outras tantas formas de cuidado ainda podem ser (re)inventadas, e cabe a nós: trabalhadores, usuários e familiares criarmos juntos outras possibilidades de cuidarmos e transformarmos outras possibilidades de vivermos no mundo.


 
 
 

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