Enfermagem: vitimização ou luta? E o reflexo na assistência
- Prof. Claudio Brazil
- 6 de abr. de 2019
- 3 min de leitura

Tenho visto e lido nas redes sociais que a enfermagem está doente e não consigo entender e, também não consigo concordar com essas afirmações.
A enfermagem enquanto profissão não pode adoecer. O que adoece são os profissionais, as pessoas que formam o quadro profissional, os seres humanos que são enfermeiros ou técnicos de enfermagem. E como já dizia Horta: “enfermagem é gente cuidando de gente”.
Nós profissionais da enfermagem não podemos ou não devemos entrar em um processo de vitimização, pelo contrário temos que nos unir, nos fortalecer e fazer valer nossos direitos. Não podemos perder nossa capacidade de indignação. Temos que ter uma posição firme e muito forte, contra as más condições de trabalho, a falta de material que pode colocar em risco o paciente e o profissional, a carga horaria excessiva e desumana e o salário defasado e muitas vezes pago com atraso. Mas isso tudo tem que ser o motivo para nossa luta e não a causa da nossa derrota.
Os profissionais de enfermagem são pessoas que trabalham todos os dias com a morte, com o sofrimento e com a dor do outro. Isso os torna fortes, mas sem perderem a sensibilidade, pois perdendo a sensibilidade deixam de serem empáticos. A empatia é o pano de fundo para uma assistência de qualidade
A relação terapêutica só se estabelece quando a empatia está presente. Sem a capacidade empática o indivíduo embrutece e não consegue interagir com o paciente.
O paciente, aquele que sofre, é o nosso grande aliado para se conseguir a melhora das condições de trabalho e, por consequência, melhora da qualidade da assistência, pois ele é o maior interessado nessa melhora e dela depende a recuperação de sua saúde ou sua qualidade de vida. Se falhar pode significar sua morte.
Orientar o paciente sobre todos os seus direitos, sobre as políticas públicas de saúde e o SUS serve também para auxiliar a enfermagem e seus profissionais a terem muito mais força na luta para conquistarem seus próprios direitos.
Respeitar o paciente sua dor e seu sofrimento reforça o sentimento de pertencimento de ambos estabelecendo então as bases para uma relação terapêutica e também a conquista de mais um aliado na luta pela busca de melhores condições de trabalho.
Muitos enfoques podem serem dados quanto ao fato do aumento do número de suicídios entre os profissionais de enfermagem. Talvez o principal desses motivos seja a falta de cuidado com o cuidador. Muitos trabalhos sobre esse tema foram feitos na teoria, mas na pratica pouca coisa mudou. Está faltando supervisão para o trabalhador. Ao trabalhar com a dor e o sofrimento do ser humano paciente, o ser humano profissional soma sua dor e seu sofrimento aos do outro e com isso potencializa seus conflitos, que se não forem trabalhados em supervisão, vão ficando cada vez maiores podendo desembocar até mesmo no suicídio.
Todo o serviço que visa uma assistência de qualidade tem que ter um setor de cuidado ao cuidador. Tem que ter uma supervisão implantada e sistematizada na qual possa ser visto e discutidos os aspectos bio-psico-social-espiritual do cuidador e suas relações estabelecidas com o ambiente de trabalho. Isso com certeza não vai acabar com o suicídio, mas vai prevenir e também, com certeza, diminuir a ocorrência dos mesmos. A teoria nos mostra que os suicidas normalmente enviam pedidos de socorro mostrando suas intenções. Falta um olhar atento para interpreta-los. Uma boa supervisão vai conseguir identificar os sinais emitidos. Para a implantação de uma supervisão sistematizada não é necessário uma super estrutura só depende de vontade política.
Os enfermeiros não podem se acomodarem e se submeterem a mandos e desmandos de quem não conhece o seu fazer profissional. Quando o coordenador de um serviço de saúde for um profissional de outra área, ele pode e deve trabalhar com a dinâmica do serviço, mas não pode determinar o fazer do enfermeiro. O enfermeiro é regido por um código de ética profissional tendo ainda uma lei do exercício que regulamenta seu fazer colocando o que pode ou não ser feito. Essa lei só o enfermeiro tem domínio, por isso não cabe a nenhum outro profissional determinar o que tem que fazer ou não relacionado a prática profissional do enfermeiro, até porque só um imbecil pode acreditar que um cargo de coordenação dê direito sobre tudo e sobre todos.
Os enfermeiros têm que lutarem pelo seu fazer, pela estrutura de seu serviço, pela qualidade da sua assistência, por uma carga horária justa, levando em conta a natureza do seu fazer e por um salário digno. E precisam mostrar seu conhecimento cientifico com a finalidade de conquistarem seu espaço no ambiente onde trabalham.
Precisa com urgência ser implantada as 30 horas e o salário mínimo profissional da enfermagem!
コメント