SAUDADE, COMPLEXIDADE E O ENFERMEIRO
- Prof. Claudio Brazil
- 1 de abr. de 2018
- 2 min de leitura

Saudade é saúde, porque mostra que estou vivo e sou capaz de senti-la ou saudade é doença, porque mostra que estou morto porque não sou capaz de senti-la mais...
Aquelas pessoas que ficam confinadas em uma instituição por muitos anos estão vivas ou estão mortas para a sociedade extramuro?
Lá dentro eu posso estar vivo, sentindo saudades daqueles que me são caros: a família que se perdeu no tempo ou o amigo que saiu da instituição e voltou para o seio dos seus. Mas lá fora posso estar morto porque fui abandonado pela minha família e visto com preconceito pela sociedade a qual pertenço, o que faz com que eu me obrigue a não sentir mais saudade de nada do que estou passando.
Posso ainda estar morto dentro de mim quando eu não for capaz de sentir saudade de tudo aquilo que já vivi, minha infância, meus relacionamentos e de tudo que já passei.
Já amei, já fui amado, já odiei já fui odiado. E isso tudo me torna especial porque sou único porque meus amores e meus desamores são só meus e só eu sei lidar com eles.
O livre-arbítrio me permite escolher o caminho da vida ou da morte e está escolha vai depender da motivação a que eu estiver submetido.
A pessoa que morre deixa saudades pelo que ela fez e não pelo que ela é. Sinto muita saudade de meu pai e minha mãe por tudo que fizeram por mim e pelo amor que me dispensaram e não pelo fato de serem meu pai e minha mãe.
Amar significa também conflitos, pois não significa concordar com tudo que o amado faz ou pensa. O que nos chateia é o erro de quem gostamos e não o erro de quem não gostamos. Porém somos capazes de tolerar os erros daqueles que nos são caros e somos intolerantes para aqueles que de quem não gostamos.
O medo de sofrer ou de sentir saudade faz com que afastemos pessoas que poderíamos amar e ser amados por elas, ou simplesmente, por não querermos nos comprometer com o problema dos que nos procuram em busca de ajuda.
A pessoa a quem cuidamos, o paciente, aquele que sofre, também sente saudade, também ama ou desama, é um ser com toda a sua complexidade e cabe a nós como profissionais respeitar o outro e todas as suas circunstâncias.
Para que possamos respeitar o outro é necessário que nos respeitemos, para conhecer o outro é necessário nos conhecermos. Ao nos amar seremos capazes de amar o outro.
O ser enfermeiro é aquele capaz de compreender e lidar com toda a complexidade do outro, além da sua própria complexidade.
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