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PROFISSIONAL DE SAÚDE E A MORTE

  • Prof. Claudio Brazil
  • 29 de out. de 2017
  • 3 min de leitura

Embora a morte faça parte do dia-a-dia dos profissionais da área da saúde, a maioria dos cursos, desta mesma área, não preparam seus egressos para lidar com o paciente terminal e com o seu desfecho final. Ao analisarmos a grade curricular desses cursos vamos ver que a morte só é discutida em um pequeno conteúdo, escondido dentro de alguma disciplina, embora desde os primeiros semestres, o aluno já se defronta com a morte e seu produto, muitas vezes, o estudante passa as aulas de anatomia dissecando cadáveres sem ter a noção de que aquele corpo um dia teve vida, foi uma pessoa, amada ou odiada, um ser humano com todas as suas circunstâncias e é desde este momento que deveria ser discutido o evento morte e todos os seus significados.

Mesmo nas famílias, a morte não é mais discutida e, quanto mais longe ela estiver das pessoas, melhor. O exemplo mais claro disso, em nossa sociedade, são os velórios que não mais se realizam em casa.

Mas esse “melhor” também tem suas consequências e, apesar de essa ser a maior certeza da vida, a maioria das pessoas têm dificuldade de elaborar o seu luto, porque não conseguem “enterrar” os seus mortos e isso os torna infelizes.

O luto não elaborado, não desaparece, ele fica em suspenso, ou seja, fica guardado em nosso mundo interno e pode se manifestar a qualquer momento frente a qualquer estímulo, fazendo com que a pessoa adoeça.

Toda essa dificuldade em vivenciar o luto vem do fato de não sabermos lidar com a morte e vivermos uma utopia da vida eterna. E aqui não estou falando de questões religiosas, mas do fato de que embora todos saibamos que a morte um dia chega, não nos preparamos para ela ou apenas muitos poucos fazem isso, e esse são chamados de “loucos”.

O morrer e seus “acessórios” saem caro em termos financeiros e quantos se preparam para gastos? Com certeza, muito poucos porque a morte nunca faz parte do nosso planejamento.

A morte faz parte da vida e, por isso, ela tem que ser discutida na família, na academia e no meio profissional.

As pessoas, de uma maneira geral, e principalmente os profissionais da área da saúde têm que aprenderem a lidar com o evento morte.

Os familiares da pessoa que morre têm que reforçarem e valorizarem, cada vez mais, as lembranças daquele que não está entre nós e se desapegarem daquele corpo que ainda pode ter órgãos. Podem salvar muitas vidas e diminuir a angustia daqueles que estão em uma longa fila de espera, no aguardo de uma chance para poder viver.

Quando a morte não assustar tanto, talvez o quarto dos pacientes terminais nos hospitais não fiquem tão longe dos postos de enfermagem e das salas de prescrições. É pouco frequentado pelos profissionais, não por omissão, mas por frustrações de não saberem lidar com aquela que se aproxima...

Até o cuidado com o corpo está terceirizado, pois esta tarefa que era da enfermagem, como tamponamentos e banho, hoje quem faz é o agente funerário.

Você gostaria que seu corpo fosse cuidado por um completo estranho ou por alguém que estabeleceu uma relação interpessoal e que lutou para lhe dar uma morte digna, aliviando sua dor e seu sofrimento.

O profissional tem que vencer sua frustração de não saber lidar com a morte e, muitas vezes, também sua onipotência por ter “perdido” aquele paciente.

O evento morte precisa ser mais discutido nas Faculdades para que o futuro profissional não fuja dele, através de vários artifícios, mas o enfrente e, com saber e técnica, possa passar por ele sem frustrações e sofrimentos e, também, sem embrutecimento.


 
 
 

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