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CUIDAR DO CUIDADOR: UMA NECESSIDADE DO SER ENFERMEIRO E DA ENFERMAGEM

  • Claudio Brazil
  • 19 de fev. de 2017
  • 4 min de leitura

Trabalhar como enfermeiro ou como técnico de enfermagem é basicamente trabalhar com a dor, com a morte, com as perdas e as mazelas do outro.

Na maioria das ações de enfermagem a dor e as perdas do outro, bem como, a morte são o pano de fundo ou o cenário do nosso fazer. Faz parte constante do nosso dia-a-dia profissional.

Ao ser empático, o enfermeiro ou membro da equipe de enfermagem, tem que ser ao mesmo tempo resiliente e aprender a fazer da dor e do sofrimento um caminho para o crescimento tanto pessoal como profissional.

A impotência frente a muitos quadros de doenças, bem como, a falta de condições para atender com qualidade aqueles que nos procuram na busca de um alivio para seu sofrimento é extremamente frustrante para o profissional enfermeiro e sua equipe.

A proximidade da morte e da dor é, com certeza, um fator altamente ansiogênico e estressante e, assim, temos que estar preparados para lidar com estas situações para que não seja comprometida a qualidade da assistência a ser prestada.

O enfermeiro tem que estar tecnicamente preparado e qualificado para exercer sua atividade profissional, pois vai lidar com vidas e uma falha sua pode ocasionar danos irreparáveis e até mesmo a morte do outro.

Muitas vezes ou na grande maioria das vezes, os empregadores não se preocupam em proporcionar a estes profissionais momentos de estudo e de aprimoramento dentro de sua carga horária de trabalho. E o que é pior, a chefia de enfermagem, ou seja, um enfermeiro (a) é omisso ou conivente, ou ainda, não sente a necessidade de estudo e aprimoramento dos profissionais da equipe.

Esta falta de estudo pode produzir uma insegurança no profissional que vai fazer com que ele fuja do paciente e fique refém do posto de enfermagem o qual o estresse é bem menor.

A ciência avança muito rápido e os profissionais necessitam de uma atualização constante, quase que diária. Precisa estar sempre estudando e a maioria dos serviços (empregadores) não oferece condições para tal.

O trabalhador atua sem as condições mínimas para prestar uma boa assistência como acontece em muitos serviços, desde a falta de espaço físico como também de profissionais e de recursos materiais para prestar uma assistência de qualidade. Falta da gaze ao medicamento e o profissional precisa fazer “mágica”.

A falta de leitos, o acumulo de gente internada ou necessitando cuidados, a falta de recursos humanos e materiais para prestar os cuidados básicos e, o desrespeito com que a saúde é tratada pelos governantes, aumenta o grau de sofrimento do profissional responsável e consciente de suas obrigações.

Não adianta a unidade de saúde ser muito bonita, inaugurada ou reformada em ano eleitoral, se não forem oferecidos aos profissionais, condições de executarem com qualidade e eficiência o seu trabalho, incluindo grupos de estudo e recursos materiais juntamente com número de pessoal adequado.

Frente a todas as situações aqui postas, que fazem parte do exercício da enfermagem, o profissional reage de diferentes formas em busca da manutenção de sua saúde mental.

Pode reagir através do embrutecimento, através do qual torna-se insensível frente a dor, o sofrimento e a morte do outro e, assim, sofre menos ou até não sofre nada.

Todas as situações estressantes são incorporadas as rotinas. Ele perde a sensibilidade e robotiza-se. Torna-se incapaz de prestar uma assistência humanizada. Esta assistência pode ser muito técnica e científica, mas raramente ser humanizada.

A conta deste embrutecimento será cobrada mais tarde, se nada for feito antes.

Outra forma de enfrentar estas situações ansiogênicas e estressantes é através da conscientização do problema e sua elaboração, através de atividades em grupo ou supervisão individual oferecidas pelo serviço.

O profissional vai reconhecer suas dificuldades, discutir seus problemas e mazelas do serviço. Vai buscar caminhos para superar o que foi identificado, fortalecendo assim sua sensibilidade e sua capacidade de empatia, sem perder seu poder de indignação frente a dor e o sofrimento do outro.

Todo o serviço de saúde deveria ter uma estrutura formal e que funcione para atender seus profissionais, fortalecendo seu mundo interno, capacitando para lidar com seu próprio sofrimento frente ao sofrimento do outro. Este fortalecimento propiciará maiores condições para a prestação de uma assistência mais humanizada e de qualidade.

As faculdades e os formadores têm que estarem preparados e atentos para atender este lado da formação dos futuros profissionais, prepará-los para lidar com a dor e a morte sem ignorá-las, mantendo sempre o poder de indignação frente a esses eventos, ser sensível, respeitoso e resiliente, portanto serem empáticos.

Os órgãos de classe (ABEN, COREN, Sindicato) tem que lutarem, cada um em sua função específica para que o enfermeiro e a enfermagem tenham o reconhecimento social e melhores condições de trabalho e salário.

Os enfermeiros como indivíduos tem que estarem conscientes da necessidade de estudarem cada vez mais, prepararem-se cada vez mais, tanto técnica como intelectualmente, para serem cada vez mais proativos, reconhecidos e indispensáveis. Não deleguem nunca aquilo que é nosso: a assistência direta ao paciente!

Ele, o paciente, é a razão da enfermagem e o enfermeiro é aquele que cuida do enfermo!

Tudo que foi até aqui colocado não é para desestimular os profissionais e futuros profissionais, mas, pelo contrário, espero que sirva para uma reflexão e que através da conscientização possamos sair fortalecidos como profissionais e como profissão e, ainda, principalmente, mais capazes de oferecermos a quem precisa uma enfermagem cada vez mais humanizada e os profissionais com sua saúde mental fortalecida.

E esta sempre foi minha visão e minha meta, talvez minha grande utopia como enfermeiro e como professor de enfermagem.



 
 
 

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