A chegada da chuva

Quem acha que alcançou o ápice da maturidade extraviou o bom senso. Não há limite entre as fronteiras do que você é e do que você foi.

Um dia você está chorando para comer doce antes do almoço, noutro está abraçado

em uma privada, fazendo-a engolir toda a sua sexta-feira.

Segunda-feira veste a fantasia do bom profissional, a armadura dos amadurecidos. Sábado não tira o pijama nem pra receber a visita.

Amadurecer é contraditório.

Você já não pode fazer feio em público, mas em casa não carrega

o manual de etiqueta em baixo do braço. Você tem que ter uma vida saudável, mas não abre mão da cervejinha no domingo. Você precisa construir uma família, mas ainda não tomou a vodka

necessária para encontrar o grande amor da sua vida. Você precisa de uma casa, de um carro, de nada mais nada menos que status.

A responsabilidade te aprisiona. Você tem a chave, mas não abre as correntes.

É preguiçoso, indelicado, acomodado.

Já não lembra da criança ingênua que foi. Já não reconhece o adolescente imprudente. Já perdeu a essência no caminho. Não realiza os sonhos e os planos de alguns anos atrás.

Amadurecer é como a chegada da chuva: não quer se molhar, mas para dormir não reclama do barulho.

MANU BRAZIL