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Uma história para reflexão

  • Prof. Claudio Brazil
  • 26 de jun. de 2016
  • 3 min de leitura


Estava como acompanhante de um familiar, em uma conceituada instituição hospitalar ligada a uma Universidade, muito conhecida no Brasil e quiçá no mundo.

O quarto era semiprivativo com dois leitos, ao nosso lado estava uma senhora talvez com 50, 60 anos.

Paciente acamada, sem movimento nos membros interiores, sem levantar do leito usava fraldas, extremamente reivindicante, sem acompanhante e poliqueixosa.

Não tinha um diagnóstico fechado pela equipe médica, composta pelo médico responsável com o suporte de neurologista e infectologista.

Certo dia foi prescrita uma medicação injetável, dolorida e que há alguns anos era muito usada para doenças sexualmente transmissíveis, principalmente nos casos de sífilis.

A paciente teve a infeliz ideia de negar-se a fazer a medicação e reclamou com a técnica de enfermagem que iria aplicar a injeção, ameaçando bater se fizessem ela tomar aquele remédio. Virou um bate-boca danado!

A enfermeira foi chamada e já chegou incomodada pela negativa da paciente e pela briga estabelecida e, ameaçou dizendo que se ela não obedecesse iria falar com o médico para que a mandassem embora.

Qual o paciente que não quer alta? São raros e só aqueles com hospitalismo.

Neste momento a paciente que a todo momento tocava a campainha, e era atendida, agora não vinha mais ninguém. A equipe brigou com ela. Quase perdeu a ponta do dedo tocando e não veio ninguém.

A paciente, usuária de fraldas, sem outra alternativa e com diarreia, passou aquele plantão todo sem ser trocada. O cheiro do quarto ficou insuportável. Felizmente acabou aquele turno e a equipe que entrou fez a higienização.

Para não perder a mania de enfermeiro fui conversar com a paciente sobre a negativa dela em tomar a medicação, mostrei a importância do remédio para sua recuperação.

Aí veio a surpresa! E ela me disse que não iria tomar porque não era “puta” e que aquele remédio era usado nas “putas contaminadas”. Reforcei a importância da medicação para o seu tratamento e tentei desfazer a ideia que a paciente tinha sobre o uso daquela medicação.

Procurei falar com a enfermeira, mas sua onipotência ou arrogância fez com que ela me ouvisse, mas não me escutasse.

Mais tarde veio o médico assistente muito irritado com a paciente, dizendo que não iria trocar a medicação e que ia dar alta, pois ela não queria colaborar com seu tratamento.

Meu familiar deu alta e fiquei sem saber o final desta história, mas sei que houveram muitas falhas no decorrer do processo.

Em momento nenhum houve uma relação de empatia com essa paciente. A enfermeira só veio ao quarto após a briga estar instalada. Enquanto estive lá, ela nunca tinha aparecido e já fazia mais de uma semana que estava lá.

Esta história mostra que é importante o enfermeiro assumir o seu papel junto ao paciente, pois a colega poderia, se já a conhecesse, ter sentado com ela, escutá-la e estabelecendo uma relação de empatia iria entender a situação e encontrar uma solução.

A equipe julgou e condenou a paciente sem tentar entende-la. Saíram todos perdendo, principalmente a paciente que teve seu tratamento interrompido pela imperícia da equipe em não a escutar.

Situações como esta ou parecidas não são raras nos hospitais, mas passam muitas vezes despercebidas porque entram na rotina.

O enfermeiro e sua equipe, pela natureza estressante de seu trabalho, deveriam ter uma supervisão constante para poder trabalharem suas angústias, dúvidas e inseguranças e assim poder evitar situações como esta relatada e, lembrar que a beleza de ser enfermeiro é ser enfermeiro apesar de tudo.


 
 
 

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